O LIVRO DOS MONÓLOGOS

de Diógenes Moura

O Livro dos Monólogos (Recuperação para ouvir objetos) explora e expande o diálogo entre literatura e fotografia que marca a trajetória do escritor e curador pernambucano Diógenes Moura. Conhecido por duas décadas de trabalho como curador de fotografia, sobretudo à frente da Pinacoteca do Estado de São Paulo, ele mostrou sua prosa urgente, intensa e irônica em seis livros anteriores e também nas intervenções poéticas e personalíssimas que comentam as duas centenas de exposições de fotografia que organizou. Aqui, os dois campos de expressão se unem com intensidade e intencionalidade inéditas. “Originalmente, a única coisa que faz sentido pra mim é escrever. Sempre vi a fotografia ligada à literatura”, diz Moura. “O Livro dos Monólogos dá forma a algo que sempre existiu e que venho desenvolvendo mais precisamente nos últimos dez anos. É uma tentativa de irmanar literatura, imagem, fotografia e existência”.

Dimensões. 16cm x 23cm

Páginas

Capa

Papel

R$ 60,00

ou em 3x R$ 20,00

Enviado com sucesso!

Houve um problema ao enviar.

Cenários urbanos em ruína

A narrativa se relaciona a quadrantes específicos de três cidades brasileiras, que o autor conhece por experiência imersiva: o bairro paulistano onde vive, ex-refúgio pacato de velhinhos que hoje registra quatro arrombamentos semanais; o arrabalde de Tejípio, no Recife, onde se criou, numa casa de chão de ladrilho hidráulico depois soterrada por uma linha de metrô; e o bairro da Liberdade, em Salvador, cidade onde viveu durante 17 anos e que tem até hoje tem uma profunda relação entre memória e agonia. Nesses cenários de ruína deflagrada e insidiosa violência, aparições de naturezas diversas emergem, ora no texto, ora na imagem, ora em ambos. Gente real e próxima, gente do passado do autor ou alheio, gente imaginada, gente vista em uma fotografia. A mulher que surgiu de branco, descalça, na chuva, e sumiu, uma noite no Minhocão; o homem abatido com uma flecha cravada no pescoço no centro de São Paulo; a sobrinha transexual que Moura ajudou a criar, Marcele, que é personagem importante no livro; a “menina de nove anos com corpo de criança e rosto de mulher”; a noiva da foto centenária e bordada na parede do gabinete; o próprio Diógenes, em alguns retratos feitos por fotógrafos amigos. Fragmentos de dramas e sonhos dessa galeria híbrida de personagens – que Moura procura entender “entre vida e morte, entre público e privado, na janela das suas casas, numa notícia de jornal, na tela de um computador ou celular, nos gritos das ruas, na esquina mais próxima”– se acumulam no texto veloz. A eles, juntam-se os invisíveis: gente em situação de rua e usuária de crack que mora sob invólucros de plásticos no centro de São Paulo. Irônicos em seu extremo apuro estético, os registros do autor de pessoas e famílias fumando crack em casulos semitransparentes, às vezes à luz do dia, remetem a alguma performance contemporânea. “Não é fotografia, é uma imagem diante do abismo”, diz Moura sobre seus pacotes-existência. “Não sou fotógrafo, nunca fui, nunca serei.” Imagens chocantes de um elaborado abandono, elas renovam um desafio que ele parece considerar inerente à fotografia, assim como à vida: a capacidade de enxergar o outro.

Uma forma possível

Expor “a prova mais perversa da violência urbana que ultrapassa todos os limites nas capitais brasileiras” é parte da missão a que o escritor se dá em O Livros dos Monólogos, na tentativa, talvez, de fazer pensar sobre “esse terreno devastado, ignóbil, que não percebemos quando estamos nas ruas, dentro dos ônibus, dos automóveis e dos metrôs, anônimos, (...) entre abandono, construção, progresso, desabamento e descoberta, entre vida, sangue, poesia, resquício e morte”. A crueza de sua prosa-poesia é uma forma possível; a imagem também, desde que se entenda pelo que é. “Em tempo algum uma imagem será apenas uma imagem. Em todos os tempos uma palavra será sempre uma palavra”, afirma Moura.

“Aos dezesseis anos eu matei Marcelo. Agora, aos trinta e seis, eu vou matar Marcele.”

 

 

Imagem
Imagem

“Em tempo algum uma imagem será apenas uma imagem."

Diógenes Moura