Sentimentos traduzidos
"Companheira de todas as horas, a fotografia foi a linguagem que escolhi para traduzir os sentimentos que me acompanharam nos mais de noventa dias em que mantive o diário."
de JOÃO MARCOS ROSA
Diário fotográfico publicado no Instagram durante 92 dias da quarentena de 2020. Imagens de convivência, presença e descobertas entre pai, mãe e filho e a natureza no interior de Minas Gerais
Dimensões 14cm x 18cm
O fotógrafo João Marcos Rosa não planejava um trabalho sobre o período da quarentena. Era o terceiro dia de notícias assustadoras que previam uma reclusão forçada e por tempo indeterminado quando seu filho Benjamin o chamou para brincar. “Quando me aproximei de onde ele estava percebi algumas avencas que estavam lindas naquela luz do fim do fim da tarde. Voltei à casa, busquei a câmera e ficamos ali conversando e fotografando. Por um momento consegui me voltar para o presente e estar inteiro com minha família”. Mais tarde, ao olhar as imagens no computador, decidiu começar um diário no Instagram. Os 92 dias de registro foram eternizados em um livro encantador.
Após uma manhã chuvosa, quase fria e com certa melancolia, o sol abriu no início da tarde e trouxe com ele as aves aqui para o quintal. Resolvemos então iniciar uma pequena expedição para tentar fotografar beija-flores que se alimentavam nas helicônias. Missão fracassada. Alguns jacus e um bem-te-vi deram o ar da graça para algumas fotos, mas foi na boca da noite que a corujinha-do-mato apareceu e proporcionou para mim e para o Benjamin a possibilidade de registrar sua visita em foto e desenho. Apesar de toda a incerteza e temor, seguimos por aqui mantendo a esperança.
Quando vi essa folha presa à uma teia hoje cedo, foi inevitável comparar à situação que vivemos atualmente. Indo de um lado para o outro em busca de uma saída, uma solução. Fiquei ali filmando da varanda. Chamei a Ana que disse que a folha lembrava uma bailarina. Chamei o Benjamin que a comparou com uma ararajuba. Por fim, quando mudava o tripé de lugar, depois de uns dez minutos de observação, ela caiu. Voltei a pensar, dessa vez no quão efêmera é a vida, e quantas coisas deixamos passar despercebidas na correria que os dias normais nos impunham. Nunca tinha me dado tanto tempo para estar comigo mesmo e reparar nas coisas que estão ao meu redor. A simples folhinha girando alegrou meu dia. Me trouxe um sentimento de pertencimento à minha terra que há muito tempo eu não sentia.
"Companheira de todas as horas, a fotografia foi a linguagem que escolhi para traduzir os sentimentos que me acompanharam nos mais de noventa dias em que mantive o diário."